domingo, 1 de dezembro de 2019




       AVÔHAI

     Avôhai é um neologismo criado pelo cantor e compositor Zé Ramalho que significa "avô-pai". É título de uma canção sua que foi gravada em 1977 pela Vanusa e no ano seguinte por ele no LP "Zé Ramalho", pela CBS. Nessa letra há muitos assuntos referentes a sua vida e principalmente por ele ter sido criado (desde pequeno) pelo avô, após o pai morrer afogado... 

 Dicionário Cravo Albin
 Entrevista disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=la_CrKylBrU >. Acesso em 31/11/2019.  

sábado, 30 de novembro de 2019



         
              COMO VER-TE 


Veja, você vai sempre tão distante...
Foge fácil dos meus sonhos para além
Muito além de qualquer lugar de antes
Que o tempo torna-se mais um refém

Aquela estrela cadente que te dei
Aparece pra te ver lá do alto-mar
Levando os aromas que te guardei
Das acácias para a vida perfumar

Tudo isso é muito, é tão simples sim
Que eu bem sei... é difícil perceber
Lembra do choque das cores, que em mim
provoquei para esperar você nascer?

Pois bem... foi para acima das nuvens do céu
De flor em flor te entregar esse presente véu


Este soneto inglês ou shakespeariano (com três quartetos e um dístico) está publicado na revista on line LiteraLivre Vol. 3 - nº 18 – Nov./Dez. de 2019


© 2019 Todos os direitos reservados a Wagner Azevedo Pereira (Este texto não pode ser publicado total ou parcial, de qualquer forma ou por nenhum meio sem a autorização do autor – Sujeito às penalidades da Lei nº 9.610/98). 

sexta-feira, 4 de outubro de 2019



         Noel Rosa não gostava de sol


     O cantor e compositor da MPB Noel Rosa (RJ, 11 de dezembro de 1910 - RJ, 4 de maio de 1937não tomava sol (que sintetiza a vitamina D no organismo) e isso lhe causou uma tuberculose. Foi tratar a doença em Minhas Gerais e de volta ao Rio, ao se sentir bem melhor, parou com as medicações, e jurou estar curado. Entretanto, poucos dias depois adoeceu fortemente, por conta da noite boêmia, não conseguindo mais se alimentar e nem levantar da cama, e faleceu repentinamente em sua casa, no bairro de Vila Isabel no ano de 1937, aos 26 anos. Seu corpo encontra-se sepultado no cemitério do Caju, no Rio de Janeiro. Deixou mais de 200 canções. 

    Eis seu reclame do sol citado em quatro canções: em “Conversa de botequim” e “Feitiço da Vila” (essas duas em parceria com o pianista Vadico; em Tarzã, o filho do alfaiate (em parceria com Ismael Silva) e em Fita amarela (musica e letra sua):
“Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d’água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado 
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol

 ... O sol da Vila é triste
Samba não assiste
Porque a gente implora
Sol, pelo amor de Deus        
não vem agora
que as morenas
vão logo embora...”

Quem foi que disse que eu era forte?
Nunca pratiquei esporte, nem conheço futebol...
O meu parceiro sempre foi o travesseiro
E eu passo o ano inteiro sem ver um raio de sol

Quero que o sol, não invada o meu caixão
Para a minha pobre alma não morrer de insolação
Quando eu morrer, não quero choro nem vela
Quero uma fita amarela gravada com o nome dela

sábado, 28 de setembro de 2019



      COISA DE POETA

Foi no mar, na beira do desejo
Que eu te vi, que eu te sonhei
Em forma tão flor ou de beijo
Que se pode falar e bem sei

Só em versos que explode em cores
Para a verdade ao mundo luzir
Só em sons que vislumbram amores
Para a essência, delicadeza surgir          

Se o canto protege sem nada querer
O que saber então da luz que decreta?
O que pode ou não deve acontecer...

Se minto em real maneira completa
É porque é assim que se deve ser
Isso é por direito, é coisa de poeta!

Wagner Azevedo


O soneto está publicado na revista on line LiteraLivre Vol. 3 - nº 17 – Set./Out. de 2019, p. 258

© 2019 Todos os direitos reservados a Wagner Azevedo Pereira (Este texto não pode ser publicado total ou parcial, de qualquer forma ou por nenhum meio sem a autorização do autor – Sujeito às penalidades da Lei nº 9.610/98). 



quarta-feira, 31 de julho de 2019



      LEI de 1075


     Beijar os pés do papa não é qualquer atividade vulgar!
     Eu descobri que está na lei do código Dictatus Papae, de 1075, implementado pelo papa Gregório VII (1020-1085). Assim apresenta o n. 9: “apenas seus pés [do papa] devem ser beijados pelos chefes de Estado”. 
     É importante deixar claro que isso NÃO é uma imposição aos chefes de outro país, mas caso aconteça, APENAS o papa deve ter seus pés beijados, e não pessoas da comitiva... 

terça-feira, 30 de julho de 2019



     AMOR É O QUE NOS FAZ GIGANTES


A mor alegria é ter a viva consciência, sim,
Da vida que segue como se num elevador
Diferente da catábase que tão perto do fim
Faz o percurso pra baixo, mas eleva a dor

Paradoxo e paronomásia para só refletir
Qualquer coisa que invade o âmago do ser
Se deixar explodir o sentimento que porvir
Virá tão fato mais que a cor, o âmbito viver

Acima do céu anima do que é mais profundo
De imaginar não é fácil nem tampouco ver irreal
O que se colhe neste grande misterioso mundo

Como registraram os músicos e os poetas antes
Tudo passa, ame sem medo, de forma bem natural
Porque somente o amor é o que nos faz gigantes

Wagner Azevedo


O soneto está publicado na revista on line LiteraLivre Vol. 3 - nº 16 – Jul./Ago. de 2019, p. 33.

© 2019 Todos os direitos reservados a Wagner Azevedo Pereira (Este texto não pode ser publicado total ou parcial, de qualquer forma ou por nenhum meio sem a autorização do autor – Sujeito às penalidades da Lei nº 9.610/98). 






quinta-feira, 25 de julho de 2019




A  ESCOLHA
    
     Nem parecia ser um avesso da vida, mas com certeza não deveria ser nada extraordinariamente comum...
     Ela estava na flor da idade, estudava, mas não era sua praia. As aulas estavam presentes, mais por pressão dos pais. Cabulava. Por conta disso sempre raposava. Sua predileção era andar de festa em dança como dona Constança, farrear nos regalórios com as amigas nos finais de semana.
     Mais um e ela combina com sua melhor amiga de infância Leila para outra noitada. Balada era a mais badalada dos encontros: ti-ti-tis, lero-leros, conversas pra boi dormir, azarações, flertes...
     Os pais de Maria sempre conversaram com ela a respeito de namoro que porventura viesse ter. Era uma espécie de liberdade vigiada. Maria, portanto, era uma jovem bem informada...
     Outro fim de semana as duas novamente juntas. Curtem muito, dançam, bebem. Maria beija muito o namoradinho e após horas de agitação todos ficam exaustos. Param para descansar. Blá-blá-blás e no ocloque vão ficando para trás as cinzas das horas. Decidem ir embora. Maria despede-se da amiga e lança uma xeta. Nesse dia elas nem ouviram o amiudar dos galos.
     Na escola, de praxe, o ramerrame: trocaram figurinhas, sobre assuntos diversos... esse é o ritmo por um bom tempo. 
     Aconteceu que um dia antes do início de uma aula de matemática, no pátio, Maria começa a sofrer um mal-estar, um leve tonteamento. Abaixa a cabeça. Sua aparência muda. Uma amiga lhe toca ― tap! tap! ― e pergunta:
     ― O que está acontecendo, Maria? Tudo bem?
     ― Oi, amiga! Estou indisposta... um pouco tonta, sei lá... ― parecia que o destino lhe sombreava um fadário. Rapidamente a amiga chama a diretora:
     ― Diretora, a Maria está passando mal! ― ela se aproxima:
     ― Maria, o que você tem?
     ― De repente fiquei zonza...
     ― Venha até a secretaria! Vou te dar um remédio!
     ― Sim! ― a diretora a mata-cavalo:
     ― Deite aqui, Maria! Vou preparar uma mezinha pra você! ― Maria se acomoda. A diretora escabreada, com uma pulga atrás da orelha pela experiência da vida, desconfia do que seja o mal-estar e diz:
     ― Maria, vá ao médico fazer um exame para ver o que você tem!
     ― Não precisa, não, diretora! Já estou melhorando! ― Sem intenção de meter os olhos a dentro, insiste:
     ― Menina, vai, sim! Todos nós, precisamos de nos cuidar! 
     ― Tudo bem, amanhã irei!
     ― Vá logo hoje! ― mesmo não sendo carunchenta, mas por ter idade de ser sua avó, Maria obedece:
     ― Eu vou!   
     Ao chegar em casa Maria relata à mãe sobre o ocorrido. Ela também de orelha em pé, desconfia do amunhecar da filha, mas fica na dela... Já recuperada Maria deixa mesmo para ir ao médico no outro dia.
     Cocorocóóóó... ― Um galo canta.
     Cocorocóóóó... ― outro galo.
     Cocorocóóóó... ― e mais outro e vários galos vão unindo seus cantos até tecerem a manhã... e raia o dia.
     Uaaaah! ― Maria acorda! ― ahhhh!espreguiça, levanta da cama, toma o banho e se prepara para sair. Com muito vigor, vivacidade de uma sereia ao espelho, maquila-se com ruge e batom. Despede-se da mãe e vai ao consultório. Tudo segue normalmente. O resultado do exame só daqui a três dias.
     Chega o dia. Maria retorna ao consultório. O médico lhe entrega o envelope e fica na expectativa... Ela o abre, lê e:
     ― Positivo?! ― continua lendo e: ― O que é isso, doutor? Estou grávida?! ― pergunta assustada.
     ― Sim! Meus parabéns! Conte para o maridão! Ele vai gostar!
     ― Mmmmas... ― titubeia ― E agora? Nem sei qual será a reação dele... ― fica preocupada.
     ― Ah, deixe disso, futura mamãe!!! Uma criança sempre é alegria no lar! É esperança de renovação para esse mundo!
     ― Eu sei, doutor... ― não entra em detalhes. ― Preciso contar para minha mãe. Até mais e muito obrigada! ― no meio do caminho aparece uma amiga:
     ― Oi, amiga! Tudo bem?
     ― Sim, tudo! E você? Qual foi o resultado do exame? O que você tem?
     ― Bem... eu não tenho nada...
     ― Graças a Deus, né?
     ― Sim, graças a Deus... mas... o resultado revelou que estou grávida!
     ― Nossa! Que legal, amiga! Parabéns!
     ― Poxa, amiga, você me parabeniza?! Eu sei que um filho é bacana etc. e tal... só que... ter um filho agora? Não planejei nada!
     ― Maria! Essa criança não pediu pra vir ao mundo! O que aconteceu foi por descuido... e descuido de vocês... agora é esperar pela criança com todo o amor do mundo! Pense em cuidar dele!
     ― Eu sei! Não precisa ralhar, né?
     ― Não estou ralhando... tua família e teu namorado já sabem da novidade? Eles vão gostar!
     ― Ninguém sabe de nada ainda! Contarei pra minha mãe agora, depois para o pai do bebê... não sei qual será a reação deles... tô pensando e me preparando para falar!
     ― Ah, com certeza eles serão avós e pai coruja!
     ― Sei não... bem... vou indo e depois nos vemos na aula! ― agora ela encontra com o namorado:
     ― Oi, amor! ― Smac! ― deu um beijo nele e foi logo falando: ― tenho uma surpresa pra te contar!
     ― Oba! ― A unhas de cavalo: ― Conte logo, vai!
     ― Calma! Pra quê tanta pressa? Sossega o pito! Kkkkkkkk ― Ele amolava o queixo como se espera o início de um rega-bofe:
     ― Estou calmando...
     ― Vou fazer uma viagem!
     ― Legal! Para onde?
     ― Ainda não decidi... ― Ela preferiu não contar sobre a gravidez nem para ele e nem para a família, por enquanto.

***

     O tempo foi passando, a barriga foi crescendo e Maria foi escondendo-a. Todavia, chegou um momento em que ela não podia mais apertar a barriga: já estava ficando incomodada e também poderia machucar o bebê! Foi aí que ela decidiu falar primeiro para o seu namorado. Foi num encontro da balada:
     ― Querido, preciso de te contar um assunto muito importante!
     ― Diga, meu amor!
     ― Está preparado?
     ― Claro! Tudo que vem de você é bom!
     ― Pois bem... estou grávida! Você será papai! ― como não poderia ser diferente, ele toma um susto:
     ― Oxe! Como assim “serei papai”?
     ― Isso mesmo que você ouviu! Você será papai!
     ― Poxa, amor! Nem planejamos ter filhos...
     ― Eu sei disso! Só que aconteceu... eu estava para te contar há algum tempo, mas preferi adiar! ― ela o olha e ele... só pensamentos.
     ― Não é isso, meu amor! Gostei sim! Você sabe que eu te amo muito! Apenas preferiria que tivéssemos o bebê mais adiante! Nem moramos juntos ainda...
     ― Isso é o de menos! Vamos morar juntos, então?!
     ― Só me dê um tempo para ajeitar minha situação, tá bom? ― ele estava desempregado. Por conta disso amarrou um bode. Despedem-se.
     Maria conta a gravidez aos pais e que seu namorado assumirá a paternidade. Seus pais não metem o nariz na vida deles, o que deixou Maria surpresa.
     O casal passa a morar junto e esperam a chegada da cegonha.
     Já bem bacu e próxima de dar à luz, Maria sente fortes contrações. Paulo está em casa. Ela o avisa:
     ― Amor, estou com dores! Acho que o neném irá nascer! Leva-me para o hospital!  
     ― Claro! Como eu já havia combinado com o Tito sobre o carro falarei com ele agora! Ele pega o carro emprestado e saem. Chegam ao hospital. Ela sente as dores do parto. As dores se intensificam. Inicia-se o parto. A criança nasce: é um menino e chamaram-lhe Benjamin.
     Mão por baixo, mão por cima, Maria trata do filho e continua a estudar. A criança é benquerida por todos. É o xodó da família de ambos. A vida segue...
     Eles levam a vida de uma maneira simples. Apenas Paulo trabalha fora, pois já conseguira um trampo. Biscates já são águas passadas.
     Já transcorre algum tempo e Benjamin já está grandinho, perto de completar um ano. Anda e tem alguns dentinhos e suplantou os gu-gu-dá-dás e a língua de trapos e botava corpo mirim.
     Novamente Maria começa a ter enjoos e os sintomas semelhantes que tivera na primeira gravidez. Encabulada retorna ao médico:  
     ― Doutor, sinto os mesmos sintomas que tive antes da gestação! O senhor precisa me ajudar! Parece que estou grávida novamente! Pelo fato de meu bebê ainda não ter um ano de idade não quero outro filho em um espaço de tempo tão curto! Além do mais minhas condições financeiras... Cuidei-me, mas... ― deu à língua numa taralhada que neste dia colocou qualquer desses animais considerados tagarelas: cega-rega, gralha, matraca, papagaio, patativa, no chinelo. O doutor ouvindo a papeada e achando até graça, de chofre deu-lhe uma freada:
     ― Muito bem... O que você quer que eu faça? ― Maria meio que inebriada responde:
     ― Vejo que a única solução será interromper esta gravidez e conto com a sua ajuda do senhor! ― Ele então pensou um pouco e disse para a Maria:
     ― Acho que tenho um método melhor para solucionar o problema!!! ― Maria fica contente e se afoba:
     ― Sério, doutor?
     ― Sim, senhora!
     ― Então diga, diga doutor! Como o senhor me ajudará? ― ele continua:
     ― E é menos perigoso para você! ― Maria sorriu, acreditando que o médico atenderia a seu pedido... Ele completou a sangue-frio:
     ― Veja bem, Maria... para não ter de ficar com dois bebês de uma vez, em tão curto espaço de tempo, vamos matar este que está em seus braços! Assim, você poderá descansar para ter o outro! Se vamos matar, não há diferença entre um e outro, não é mesmo?... Até porque sacrificar este que você tem nos braços é mais fácil e ainda nem correrá risco de morte… podemos fazer isso sem tir-te nem guar-te! Que tal? Topas?
     Maria se apavora, toma um susto, quase cai e na mesma hora retruca:
     ― Que isso, doutor! Pelamordedeus! O senhor está maluco? O senhor é médico! Tem a obrigação e a missão de salvar vidas e não de propor a morte!
     ― E você é mãe, geradora de vida! Mãe pode pedir ajuda para assassinar uma vida? E agora?
     ― O senhor está maluco!?
     ― Eu maluco?! Mas você não quer fazer aborto?
     ― Sim, quero! Mas não matar um filho!!!
     ― Mas aborto é matar um filho!!!
     ― Que isso!? Não posso fazer uma barbaridade dessas! Matar o Benjamim! Que horror! Matar uma criança é um crime! Gostamos muito do Benjamin! ― Foi aí que o doutor queria chegar:
     ― Por isso que te sugeri... pensei igual a você, Maria! Entretanto, me pareceu tão convencida disso, que por um momento pensei em “ajudá-la!” Não entendo o espanto! ― o médico estava testando o juízo de valor de Maria...
     ― Não! Nada disso! Eu amo meu filho! Só quero o bem dele! 
     ― Estou apenas oferecendo uma proposta ... Além do mais... pense bem... se você fizer o aborto... você terá uma grande possibilidade de morrer, sabia? Que tal? Faça a escolha!
     ― Nem morta! Não quero fazer escolha nenhuma! Quero viver e quero ter meus filhos com muita saúde!... ― o doutor sorriu e, depois de algumas considerações, viu que a sua lição surtira efeito. É claro que ele queria matar o Benjamin, apenas fez isso como provocação, um teste para ver a reação de Maria. Ele sabia que Maria não quereria fazer essa escolha absurda; objetivava convencê-la perceber que não há menor diferença entre matar a criança que nasceu ou matar uma ainda por vir, mas já viva no seio materno, ao dizer que o crime é exatamente o mesmo.
     Maria aprendeu a lição! Agradeceu ao doutor a lição de vida que foi na realidade um puxão de orelha. A partir desse momento ela amou tanto Benjamin quanto o futuro filho que viria.



                                                                                                           Wagner Azevedo Pereira

O conto está da página 306 a 310 do livro:

Adentre-me: o almanaque do suspense. / Vários autores ; organizado por Érica de Oliveira e João Paulo Hergesel. – Alumínio, SP : Jogo de Palavras, 2019. 316 p. ; 18 x 25 cm

ISBN: 978-65-80097-30-2

e-book https://docs.wixstatic.com/ugd/8181f9_6fc080ea1bee44ca98cb2b002f134d88.pdf

livro físico disponível no site: https://www.jogodepalavras.com/antologias

© 2019 Todos os direitos reservados a Wagner Azevedo Pereira (Este texto não pode ser publicado total ou parcial, de qualquer forma ou por nenhum meio sem a autorização do autor – Sujeito às penalidades da Lei nº 9.610/98). 



domingo, 21 de julho de 2019



         EFEITOS DO BELO


     São dois: o sentimento estético e o juízo estético.

     O sentimento estético é a emoção agradável. Misto de prazer e surpresa, produzida em nós face à obra de arte.

     O juízo estético é conforme Croce, “a atividade crítica que reconhece o Belo”. O juízo estético é o mesmo que o gosto.
     Há uma educação do gosto, e aquela sentença famosa que afirma não discutir sobre gostos, é somente válida no âmbito de conversas despretensiosas e rotineiras.
    A educação do gosto é possível pelo estudo da Estética, que é a base teórica e filosófica do Belo, e pela apreciação das obras de valor artístico, que sedimenta na prática, o aperfeiçoamento do gosto.
   Há dois tipos de gostos: o individual ou subjetivo e o universal ou objetivo, decorrentes da objetividade e subjetividade do Belo.
     Hegel, nas últimas trinta páginas de sua “Estética” provou a improcedência do de gustibus non disputandum (o gosto não se discute).

     Já bem antes de Kant, havia a antinomia fundamental entre o gosto particular e o gosto universal.

     Pelo estudo aprimora-se o gosto individual. São de Amoroso Lima: “No caso, o gosto, dom de uns e falhas em outros, tão raros nos críticos, quanto o gênio nos poetas, como dizia Pope. Mas o gosto pode ser suprido por outras qualidades — como a curiosidade, segundo Aristóteles, ou o espanto, segundo Platão. Basta-lhe um mínimo de partida, um ponto de apoio inicial. Tudo mais é fruto de educação e conivência. Se há qualidade sobre a qual tenha efeito aquele sentimento, considerado por Tarde, como básico da vida social — a imitação —, é sem dúvida o gosto. Dificilmente não melhora o nosso mau gosto se vivermos entre homens de bom gosto. É mesmo frequente vermos nascer em nós o gosto artístico, apenas virtual em nosso subconsciente, se procurarmos despertá-lo. A vontade e a convivência influem enormemente no despertar e no melhorar do nosso gosto. Podemos e devemos educar em nós o gosto estético”.

O trecho está no livro de TAVARES, Hênio. Teoria Literária. Belo Horizonte: Itatiaia, 2002, p. 13).


 

sábado, 20 de julho de 2019



     COINCIDÊNCIA DE INTERTEXTUALIDADE...


“É que tu estavas cavando um abismo debaixo dos pés de tua filha!”
(Joaquim Manuel de Macedo. O moço loiro. Publicação de 1845)

“Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés”
(Cartola. O mundo é um moinho. Gravação de 1974)

Referência Bibliográfica

MACEDO, Joaquim Manuel de. O Moço Loiro. São Paulo: Ática, 1993.


Crédito da canção

O mundo é um moinho (Cartola), MPB, 1974, gravação de Cartola, Discos Marcos Pereira, LP “Cartola”.

                                            __________________________

“Ah!                                   
Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso                                                                 “As pessoas são uns lindos problemas
Por ter finalmente vencido na vida                              Eu posso até acreditar
Mas eu acho isso uma grande piada                            Eu acho tudo isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa”                                       Ou então eu posso achar”

(Raul Seixas. Ouro de tolo.                                         (Sérgio Sampaio. Não tenha medo não!
Gravação de 1973)                                                      Gravação de 1973)                          




Crédito das canções

Não tenha medo não! (Rua Moreira 65) (Sérgio Sampaio), MPB, 1973, gravação de Sérgio Sampaio, 6349 057, LP “Eu quero é botar meu bloco na rua”. 
Ouro de tolo (Raul Seixas), MPB, 1973, gravação de Raul Seixas, Compacto, Philips Records.  



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sexta-feira, 19 de julho de 2019



       
      TERMO LITERÁRIO


EMAKIMONO – termo japonês que designa pinturas em textos literários ou religiosos. Era obra desenvolvida sobre extensa faixa de papel (inventado na China desde o ano 105 d.C.) enroladas em torno de um bastão, cuja largura variava entre 25 e 52 cm e, às vezes, ultrapassava vinte metros de comprimento. Esses rolos surgiram à época de Nara (710-794 d.C.).
     O EMAKIMONO mais antigo que chegou até nós data do século VIII, chamado Kako Genzai Ingakyô (Sutra ilustrado) copiado de uma obra original chinesa da dinastia dos Sui (589-618).
     Inicia-se a criação dos EMAKIMONO a partir da época Heian (794-1185). Diversos romances e contos famosos foram ilustrados, como o Genji Monogatari (“História de Genji”, romance de 54 capítulos, escrito em hiragana pela Murasaki Shikibu, provavelmente entre 1015 e 1020, sendo, portanto, um dos romances mais antigos do mundo); os Jigoku-zôshi, do século XII (cenas budistas); os Chôjû-giga nos fins do século XII (cenas humorísticas); os Heiji Monogatari (cenas históricas); além de textos com templos, como o Shigisan Engi e com muitas paisagens. As pinturas alternavam-se com textos ou eram misturas (cenas com histórias escritas). Grande parte dessas obras conhecidas são dos séculos XIII e XIV e foram criadas até século XIX.
     Chama-se MAKIMONO os rolos que têm poucas ou nenhuma ilustração.  


Referências Bibliográficas

HIDEO, Okudaira. Narrative Picture Scroll of Japan. Nova York-Tóquio, 1973.
KENJI, Toda. Japanese Scroll Painting. Chicago Univ. Press, 1935.
LOUIS, Frédéric. O Japão: Dicionário e civilização. Tradução: Álvaro David Hwang (coord.) et al. São Paulo: Editora Globo, 2008.
SECKEL, D. Emakimono. Nova York, 1959.
TERUKAKU, Akiyama. Japanese Paiting. Genebra, 1961.

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